[RP Fechada] Procurando Nemo

Era um fato termos momentos ruins ao longo da vida. Mas não naquele dia. Calum havia trabalhado muito para fazer aquela maquete. Gastou dinheiro que não lhe cabia no bolso para comprar cervejas ficando acordado madrugadas construindo prédiozinhos, rodovias minúsculas e pessoas de papel para mostrar para a sala, um modelo de sociedade. Não era exatamente o tipo que imaginava. A sua ideia verdadeira era colocar esqueletos ambulantes porém, era expor a sua opinião ou ser levado a sala do diretor com a ocorrência de que fez apologia a algo impróprio para uma segunda-feira.

Logicamente, a primeira opção saia mais barata. Apesar de tudo lhe ser uma mentira. 

Puto, de ressaca e agora perdido. De domingo para o dia em questão, Calum havia vomitado e tossido quase metade de seu corpo para fora e como a data só lhe permitia entregar o projeto no dia em que faltara, resolveu se manifestar atacando todo o esforço tido contra a piscina de treino. Aquilo só boiou duas vezes até afundar e o treinador apitar atrás de suas costas entregando uma redezinha branca para que limpasse tudo antes que lhe corresse o desfortúnio de parar na detenção :

- Inferno Calum. Por que foi perder a cabeça de ressaca?! Droga. Mil vezes droga. - Praguejar. Nada soava mais bonito e tão bem pronunciado como um palavrão vespertino. Se seminários ou pautas se baseassem nisto, com certeza passaria de ano, arranjaria um emprego e ficaria rico. Norlander por si só era uma confusão mecânica de ótimos neurônios com uma péssima língua. Não que fosse culpa de sua educação familiar. A mãe que não foi capaz de criá-lo fez com que aprendesse nas diversas escolas que estudava, a ser tão altivo quanto os demais. O que impera ao invés de servir. Um digníssimo rei de pele fria e pálida como o gelo e lábios quentes e vermelhos como a quem diz; sirva-me que o recompensarei. 

Beleza. Agora tudo é destruído quando vemos este rei está de macacão cor laranja, topete platinado e os lábios torcidos e cada puxão dado com violência da vara. Seus pés encobertos por um all-star gasto já que precisou gastar o dinheiro do tênis novo para o spray brilhante que parecia cair bem nas janelinhas dos prédios, e o nariz empinado entrando em contraste com o cigarro inclinado nos beiços aceso emitindo uma lúgrubre fumaça cor azul bebê. Era tão ele como também qualquer um. Estava em silêncio com os fones empregados contra os dois ouvidos que emitiam um eco baixo de guitarra e bateria. 

Se ele já era esquentado, olhe o que o azar faz...

Conforme um dos braços de Calum se moviam retirando o excesso do material da água, um reflexo surgiu a sua direita desviando a face sério. Abaixou a espécime de espátula enquanto repousava os pares de fones nos ombros. Um rapaz de pele dourada e olhos puxados o fitava. A voz deste então ressoa fazendo com que o norueguês retirasse o cigarro premido na boca pisoteando próxima a borda da piscina. Ele tinha um bom tom de voz até possível a intervir a música em que o nadador escutava. Respirou afrouxando os músculos do rosto o olhando tranquilo :

- Norlander. - Sua boca se retorcia ao se ver falado o próprio sobrenome. Tentou desvendar as mãos unidas do outro porém nada lhe passara pelas ideias, apenas erguendo uma das mãos suspirantemente avermelhadas dispensando um aceno cortês e totalmente sem mecânica :

- Calum Norlander. - Completou colocando o objeto atravessado pelos ombros enquanto ainda o encarava. Novatos. Calum era estrangeiro entretanto, assim que havia chegado na cidade encarregou-se de conhecer tudo. O que lhe convia para falar a verdade. As vezes lamentava ou por dias em que estava distante de September.- quando eram os poucos eventos em que visse o rapaz de cabelos brancos sorrir ou brincar sem ser forçado.- ou estava fora da piscina. Norlander parecia ganhar buracos no rosto, olhos profundos e uma aparência sempre cansada e sem pulso. Por isso, precisava enormemente de pequenos detalhes para o manterem vivo :

- Ah. - Sua voz saiu baixa e desconcertada sem ter muitas certezas do que fazia ainda ali, o investigando tão curioso para querer saber o que existia além de uma dentição exageradamente clara e alinhada e a história do que chutou ser um moicano que o assustava por dentro :

- Eu tenho dó da sua alma. - Virou-se bruscamente mirando a limpeza feita deferindo um chute forte e brando do saco de lixo. Porcaria. Sua risada ecoou alta devido o número de trausentes no horário. Os dentes palitaram duas vezes empinando o nariz o chamando :

- Vamos. - Pausou encostando o bastão na porta do vestiário um pouco distante ainda assim, sentindo a presença do outro a seu encalço. - Vou apresentar este lugar. Bem, a equipe de natação é bem extensa. - Iniciava novamente tomando um timbre severo. Calum não tinha muitos amigos. Para falar a verdade, imaginava que todos lhe tivessem uma impressão ruim e isso pouco de longe, lhe parecia excitante. - Animados, barulhentos e fortes também. Eu acho. - Comentou dispensando os olhos para o chão :

- Se quiser experimentar a água, acabei de limpar. O treinador é bem chato quando quer. - Acrescentou revirando as orbes azuis elevando os braços na altura do peito.