[RP Fechada] Come And Get It

Observei com interesse a movimentação das pessoas enquanto caminhava pela rua, a brisa fria do finalzinho de tarde acalentava meu corpo me deixando confortável, depois de ter passado anos presa em um armário de cozinha, velhos traumas demoravam a desaparecer e eu ansiava mais do que tudo por ar puro e fresco e optava por passar o tempo livre na rua do que ficar presa em casa em um quarto fechado. A tarde caia rapidamente e com ela o dia ia também, confesso que os finais de tarde eram os meus preferidos, pois deixavam a atmosfera mais pura e com a chegada da noite, ficava a sensação de que um novo dia iria surgir nas próximas horas. Acenei para uns conhecidos da faculdade e eles acenaram de volta um tanto desconfiados, a minha fama de louca era conhecida, mas eu não fazia questão alguma de desmentir, eu estava controlada e não faria mal a ninguém enquanto tomasse meus remédios periodicamente.

Minha caminhada havia me levado até a área do Lago de Cleanwater, olhei no relógio do celular e vi que não passavam de seis horas da noite. – Droga! – murmurei ao constatar que ainda estava cedo demais para me juntar aos meus amigos em uma pub local, olhei em volta a procura de um banco, estava decidida a esperar na rua do que em casa, pelo não teria que enfrentar o batalhão de perguntas de minha mãe e não estava com paciência para isso. Achei um banco próximo ao lago e me sentei, o local estava bem movimentado e com a onda de assassinatos ocorrendo não fiquei exatamente tranquila com a quantidade de pessoas no local, levei minha mão ao bolso do casaco onde eu sempre deixava um canivete suíço por prevenção e suspirei aliviada ao constatar que havia trazido ele comigo.

Suspirei e me recostei no banco olhando para o lago distraidamente, meus pensamentos vagaram até o ano em que fiquei naquela clínica, um arrepio percorreu minha pele ao lembrar daquelas malditas agulhas enormes. Balancei a cabeça tentando espantar os pensamentos e tirei um maço de cigarros e um isqueiro do bolso do casaco, tirei um cigarro e o acendi com o isqueiro e traguei, soltando a fumaça alguns segundos depois. Meus pensamentos logo clarearam e eu suspirei profundamente voltando a olhar ao meu redor.

A tensão do medo pairava no ar, as pessoas pareciam estar distraídas, mas só pareciam. Olhei para umas duas pessoas que conversavam olhando para os lados, outras mantinham o celular em mãos e outros permaneciam apenas em alerta. Um sorriso maldoso apareceu em meus lábios quando me lembrei da encenação de assassinato que eu e uns amigos meus fizemos quando éramos mais novos, nós éramos jovens e imaturos e achávamos que o mundo era nosso. Bem... Ainda somos jovens e imaturos, mas quem se importa?

O cigarro já estava no fim e eu mal havia percebido, joguei a bituca no chão e a apaguei com a sola do meu tênis. Me recostei no banco mais uma vez e suspirei, ajeitei o casaco no corpo e peguei meu celular começando a checar as mensagens antigas. O barulho de algo vibrando despertou minha atenção, olhei para um celular em cima do banco e me perguntei quem havia sido o idiota tinha deixado o celular no banco, a resposta veio segundos depois na forma de um belo homem e acompanhada de um pedido de desculpas. Olhei para o rapaz e voltei a olhar a tela do meu celular, o fantasma de um sorriso apareceu em meus lábios. 

- Você deve ser novo por aqui? Estou certa? - murmurei e mordi o lábio respondendo a uma mensagem e voltei a olhar para o rapaz. - É que, só uma pessoa que não conhecesse a fama da cidade seria capaz de deixar a esmo um objeto que poderia salvá-lo de ser morto. - sorri e girei meu corpo ficando de frente para ele. - A cidade em si é tranquila, mas é sempre bom estar prevenido por aqui. - digo e estendo a mão para ele. - A propósito, sou Valentinna e você é ... ? - deixei a pergunta no ar e fitei os olhos dele com curiosidade, dizem que os olhos são as janelas para a alma, é olhando nos olhos que se conhece as pessoas, aprendi isso naquela maldita clínica e da pior forma. 

A intensidade moderada em seu olhar me deixou ainda mais curiosa, as pessoas daqui costumavam não encarar as outras em conversas, um fato creditado a desconfiança da maioria dos moradores nos outros. Ele tinha um sotaque carregado, achei interessante e balancei a cabeça ouvindo ele falar.

– Três dias apenas? Tem muito que aprender sobre Burkittsville. – murmurei com um sorriso de canto e fitei novamente seus olhos. – Não precisa agradecer, é uma cortesia da casa. – ri baixinho e joguei meus longos cabelos para o lado e observei ele mover seus dedos em minha direção, voltei a olhar para ele com uma sobrancelha erguida e mordi o lábio sorrindo quando ouvi seu nome. – Eden... Como o jardim do Eden? Ah! O paraíso. – murmurei baixinho e olhei para seus lábios enquanto ele falava, eu seria uma tola se não notasse o quanto ele era atraente e aqueles lábios pareciam tão convidativos. – Ainda não sei o que essa cidade tem, mas parece ser bem especial para atrair tantos assassinos em série. – dei de ombros e sorri. – Fora isso, Burkittsville é até divertido e um bom lugar para se viver, estou aqui a quatro anos e não me queixo, até gosto do clima tenebroso que paira sobre a cidade. – Observei então ele sentar-se, seu cheiro era bom e ele era quente, podia sentir o calor emanando de seu corpo ou se devia ao fato dele estar muito próximo a mim? Balancei a cabeça e olhei para o chão rindo. – Estou esperando dar o horário para poder ir a um pub local me encontrar com uns amigos meus. – Respondi e olhei para ele, era claro que ele estava flertando e eu não podia negar que era recíproco, olhei de relance para o celular e vi uma mensagem de uma de minhas amigas me informando que era para ir a casa dela antes de ir para o ponto de encontro do pessoal. Xinguei ela mentalmente e olhei para Eden com um sorriso de desculpas. – Anh... Recebi uma mensagem de uma amiga minha agora, infelizmente teremos que deixar essa conversa para um outro dia. Foi um prazer conhece-lo, Eden. – murmurei e sorri o olhando. De supetão peguei seu celular e disquei meu número, não iria arriscar perder ele de vista, me levantei e devolvi o celular a ele. – Quando quiser conversar, basta me ligar, quem sabe talvez eu te mostre o melhor de Burkittsville. – murmurei e comecei a andar em direção a saída do lago, acenando para ele.

Saio dali.