[RP Fechada] Pity Party

— Jamie, sabe que não precisa me acompanhar, certo? — perguntei para o segurança que dirigia o carro preto. — Eu só quero ficar no parque e brincar um pouco. O Sr. Esperto vai comemorar o desaniversário dele hoje, estou levando o conjunto de louças para três pessoas.

— Sua mãe pensa o contrário, senhorita — o sujeito moreno e musculoso abaixou o vidro escuro que separava a cabine do motorista e a dos passageiros. — Os assassinos ainda estão perambulando por aí, não podemos arriscar mais mortes.

— Mas eu tenho 13 anos — cruzei os braços e olhei para o coelho grande, gordo e azul que me acompanhava no banco dos passageiros. — Mamãe disse que os alvos desses caras são mais velhos do que eu.

— Nunca se sabe, senhorita. Nunca se sabe... — James estacionou o veículo um pouco depois da entrada do parque.

Segurando o Sr. Esperto pela orelhas com a mão direita e uma bola pouco maior que meus punhos com a mão esquerda, liderei a pequena comitiva formada pelo segurança careca e cheio de tatuagens na nuca que segurava uma caixa de plástico com as peças de louça do mesmo material.

Poucas crianças estavam no parque. Algumas mães se assustaram com minha chegada, mas deixaram seus filhos continuarem as brincadeiras. Escolhi um canto mais calmo próximo das estruturas metálicas onde crianças escalavam, gritavam e pulavam e pedi para James colocar os pratos.

— Se isso te deixar mais confortável, pode participar do chá, Jamie — ri enquanto me sentava e arrumava o macacão azul que usava por cima de uma blusa com os dizeres "Unicorn Princess". Os sapatos rosados colidiram suavemente com a areia do local enquanto eu cruzava as pernas.

— É... tudo bem — o grandalhão tirou os óculos escuros e sentou na minha frente desajeitadamente, me ajudando a arrumar a pequena festa.

Estava tudo pronto. A toalha branca, os pratos azuis, o bule, as xícaras e até mesmo o bolo, que era de verdade. Coloquei Sr. Esperto do meu lado direito e arrumei a gravata vermelha que ele usava. Meu segurança partiu o bolo e e separou três fatias.

— Mamãe disse que Helena fez nosso bolo preferido, chocolate com passas — o homem riu e distribuiu os garfos e pequenas facas de plástico para os "convidados" da festa. — Meu cabelo está desbotando... você acha que está ficando legal, Jamie?

— A senhorita parece uma boneca — ele sorriu enquanto levava um pouco do bolo à boca.

Não consegui segurar uma risada enquanto imaginava todas as pessoas que conhecia como bonecas em minha estante. Seria uma coleção muito fofa. Naquele momento, decidi o que queria para meu próximo aniversário. Ao menos não teria o trabalho de cortar as cabeças de mais ursos e patos que minha mãe sempre encomendava para mim. Aqueles bichos me davam muito medo.

Por puro descuido, esqueci de colocar a bola perto de mim e esbarrei nela, fazendo-a rolar para longe de onde estávamos.

obs:

— Ué, cadê minha bola? Pensei que estiv... — fui interrompida pela aparição de um rapaz suado segurando a bola.

— Quem te deu permissão para chegar até aqui? — James se levantou e encarou o rapaz. — Além disso, essa bola é da senhorita. Quem é você mesmo, moleque?

— Jamie, deixa o moço — eu tentava alertar entre risadas ao ver que meu segurança levantava o rapaz pelo decote da blusa. — Ele está com minha bola e quer devolver, certo?

Sem esperar resposta, descruzei as pernas e peguei meu brinquedo enquanto James liberava o garoto, que parecia mais suado do que antes.

— Você está muito cansado, quer bolo? — sorri para ele. Uma gélida lufada passo no pequeno espaço entre meus dentes da frente. — Jamie, o que acha de vigiar o carro? Eu fico com o moço legal. Posso gritar se algo acontecer, está bem?

O segurança alternou os olhares entre o rapaz, o bolo e eu algumas vezes antes de bufar e sair na direção do veículo estacionado. Puxei o "salvador" por um dos pulsos e me sentei na sua frente. "Ele é tão fofinho. Quero ficar com ele para sempre. Vou pedir para a mamãe me deixar convida-lo sempre que tiver algum almoço comemorativo."

— Você teve sorte, hoje é o desaniversário do Sr. Esperto — acariciei o coelho e coloquei a mão direita cobrindo a boca para segredar algo ao jovem. — Ele não sabe, mas desaniversário não existe. Eu li isso em um livro. O aniversário de verdade é só daqui a 6 meses. Não conta para ele.

O vento parecia indeciso com a reunião, ora soprando fraco e ora soprando forte, fazendo as bordas da toalha branca ondularem. "Ele é tão bonito. Será que estuda na faculdade? Mamãe me disse que muitos jovens de diversas partes do mundo ficam naquele prédio grande."

— Eu sou Melissa — coloquei um pouco mais de cobertura no pedaço dele e servi o chá imaginário em sua xícara. Ainda ocupada servindo o Sr. Esperto, resolvi investigar sobre a vida do rapaz. — Qual seu nome? Não me parece um morador de Burkittsville. Você é mais bonito do que eles. Açúcar? Sr. Esperto não pode, está de dieta, então sobrou bastante.

obs:

O tal Thomas era realmente muito fofo. Sem saber, acabou cantando uma música que eu simplesmente amava. Acompanhei alguns versos, tentando me igualar à afinação do garoto que parecia um verdadeiro astro da música.

— Você é muito li... quer dizer, talentoso — segurei uma risada e bebi um pouco do chá imaginário. — O que acha dele, Sr. Esperto?

O coelho parecia calado demais. Estranho... sempre conversávamos longamente em casa. Nos passeios ele ficava tão tímido que dava pena. Mas era o desaniversário dele, eu tinha certeza que falaria algo.

— Ma...ma? — Sr. Esperto cai para frente e perguntou. Suas orelhas chegaram bem perto do bolo que, por sorte, eu afastei.

— Ah, ele te adorou — eu sorri. — Você é um fofo, cantou minha música preferida. Sr. Esperto, não seja deselegante, olhe para nosso mais novo amigo, Thomas.

"Espero que não seja medroso. Ah, se for tudo bem. Minhas bonecas não são preconceituosas. A Úrsula adorava abraçar meus amigos... bem, isso depois de minha mãe me proibir de leva-los para casa", fiquei um pouco pensativa, com um dos indicadores no queixo.

— Você disse que cursa Música — lembrei de sua apresentação após a saída de Thomas. — Me leva na faculdade um dia pra te ouvir cantar? Mamãe nunca me deixa sair sozinha e o Jamie fica o tempo todo ocupado, mas não quero que ele arrume problemas se ficar muito tempo fora da prefeitura — desatei os nós que prendiam meus cabelos nas laterais e escolhi uma mecha escura para me distrair. — Eu quero conhecer os mais velhos, sabe? Minha mãe adoraria te conhecer. Ela é a vice-prefeita, mas por trás daquela cara durona tem um coração enorme, eu garanto — soltei a mecha escura e ajudei o coelho a se levantar. — Ah, e você pode almoçar lá em casa sempre que quiser. Helena vai amar cozinhar para você, certo Sr. Esperto? Oh...

Um dos encaixes do macacão se desprendeu e revelou parte da camisa com os dizeres e um unicórnio saltando um arco-íris. Comecei a rir com a situação e percebi que o coelho olhava para Thomas. "Que legal, eles agora serão amigos", pensei.

A maioria dos colegas que eu tinha não gostava de ficar perto do meu companheiro de pelúcia, reclamavam que ele assustava e mexia os olhos. Que bobeira, ele só fazia isso comigo.