Eu estava desesperada, mas não sabia o que fazer. As mensagens - por mais que eu tentasse pensar que não passavam de brincadeiras - estavam me matando de medo e Anastasia parecia decidida a seguir as ordens do meu pai. Eu sabia que meu velho era irredutível, mas ela? Estava ficando igual a ele. Eu não conhecia Anastasia assim tão bem, mas chegamos a conversar algumas vezes na delegacia para eu perceber que se tratava de uma menina dócil. O único problema é que eu não podia deixar que ela me tirasse dali naquele momento. Eu não queria desafiar a vontade do meu ameaçador anônimo, fosse ele um veterano ou não.
Para a minha sorte, Dimitri e Orion - dois dos meus melhores amigos desde que cheguei na cidade - apareceram em uma espécie de missão de resgate. Orion, quietinho como era, não tentou se intrometer muito na conversa, mas Dimitri mostrou da sua personalidade totalmente única e armou o maior barraco um dia já visto, acusando Anastasia de mil coisas conforme parecia se emocionar ao falar do seu pai. Eu sabia que o loiro não estava falando sério, que ele estava gritando tudo aquilo apenas para intimidar a policial, mas quando começou a falar do seu pai, percebi que talvez sua dor fosse real. Eu queria matá-lo, eu senti raiva, mas não era hora para aquilo. Dimitri me abraçou e então sussurrou algo sobre ter beijado Orion e - mesmo em pânico - consegui abrir um sorriso com a notícia. Aquela era uma novidade mais do que maravilhosa: minhas duas pessoas preferidas no mundo, juntas.
Anastasia começou a ficar um pouco sem jeito com os berros de Dimitri e coloquei a mão no ombro do meu amigo, tentando acalmá-lo. Dei uma mão para Orion, lhe dando uma piscadela em sinal de "vamos dar o fora daqui". Dimitri me deu um copo de cerveja e então segurou outro em sua mão, continuando com seu blá-blá-blá eterno. Antes que eu pudesse sequer me dar conta, o loiro jogou o líquido no rosto da policial e então me pegou pela mão, disparando comigo e com Orion para dentro da multidão. Se eu não estivesse completamente em pânico por causa das mensagens, eu teria gargalhado com a cena.
Meu pai vai me matar, mas não era preocupação pelo momento. Eu só tinha que descobrir quem havia me mandado aquelas mensagens.
Como uma resposta aos meus pensamentos, todas as luzes se apagaram de uma só vez. Meu coração disparou e senti meu estômago se reduzir ao tamanho de uma ervilha, mesmo sem saber a razão. Minhas mãos seguravam as mãos de Orion e Dimitri ainda e quando senti um frio na espinha, as apertei mais forte. O medo me atingiu como uma faca e, por alguma razão, imaginei que aquilo tivesse a ver com as mensagens que havia recebido:
-O que é isso?Perguntei com a voz completamente trêmula.
E foi então que eu vi. Uma balsa. Shows pirotécnicos incríveis e todas as atenções voltadas para o meio do lago. Mesmo estando longe, algumas imagens passavam no telão e - mesmo querendo - não consegui ficar confortável com a situação. Tudo não passava de uma pegadinha, mas eu não gostava do clima sinistro que pairava sobre o lago naquele momento. Nunca fui fã de filmes de terror, nunca gostei do medo que eles me davam, e naquele segundo eu me sentia dentro de um.
Dimitri, Orion e eu assistíamos ao show completamente congelados. Nossos olhos focavam cena por cena enquanto quatro figuras mascaradas anunciavam um espetáculo. Tive que forçar os olhos para enxergar quando uma manta vermelha descobriu um garoto amarrado e senti minha pressão cair significativamente quando reconheci o rosto amordaçado.
Brandon. Minhas mãos apertaram as mãos dos meus amigos mais fortemente e senti um pânico terrível me tomar. As pessoas em volta de mim pareciam inquietas e logo o rosto de Brandon tomou o telão da festa. Ele chorava. Seu rosto estava banhado pelas lágrimas e ele estava amordaçado.
Aquilo não era uma atuação.-Meu Deus. -Soltei quase como um suspiro, olhando para o rosto do menino que havia me trazido á festa. Eu observei a cena em completo choque quando as quatro figuras pegaram facas e, antes que qualquer pessoa pudesse reagir, passaram a esfaquear o menino. Pânico. Pessoas passaram a correr de um lado para o outro, esbarrando contra nós e fazendo com que cambaleássemos. Soltei um grito agudo de pânico ao ver meu conhecido ser esfaqueado diante dos meus olhos e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, lágrimas escorriam pelas minhas bochechas.
-Brandon, não! -Gritei em total pânico, entre soluços. Meu coração batia frio, meu corpo estava mergulhado em adrenalina e eu não conseguia respirar. Eu só chorava como uma maluca e estava apavorada. Eu não podia mais ficar ali.
-Nós temos que sair daqui!Gritei para Orion e Dimitri, congelados em seus pés. Puxei os meninos pelas mãos, os movimentando alguns metros, quando senti corpos se chocando contra o meu - todos tentando escapar em mais puro desespero - fazendo com que minhas mãos se soltassem às dos meus amigos e meu corpo se chocasse fortemente contra a grama molhada. Senti um chute em minha costela de um rapaz que corria e perdi o ar, ficando tonta por um momento. Pessoas batiam e pisavam em mim sem sequer se dar conta. O pânico era geral e senti uma dor aguda no canto do meu corpo.
Puta que pariu! Eu não conseguia me levantar. Soltei um grito de dor. Foi só então que vi uma mão se erguendo em minha direção, me tirando do chão como uma espécie de anjo da guarda.
-Calliope!Exclamei ao reconhecer a morena. Olhei em volta em busca de Orion e Dimitri, mas meus amigos haviam sumido na multidão. Pelo menos eu sabia que eles estariam bem enquanto tivessem o outro, mas a preocupação não deixou de me bater. Deixei que ela me ajudasse a me movimentar e então corremos juntas em direção à saída. Meus olhos vagavam por todos os lados conforme eu tentava encontrar meu pai. Eu sabia que ele estava ali e eu sabia que Anastasia havia ido por causa dele. Meu rosto estava molhado por lágrimas e parar de chorar parecia quase impossível. Quando encontrei o rosto conhecido, disparei em sua direção, o abraçando o mais forte que pude e enterrando meu rosto em seu peito. E como havia feito nos últimos minutos, chorei como uma criança.
-Papai! Ai meu Deus! Me desculpe, eu devia ter te avisado, eu devia ter dito que tinha vindo para cá! -Gritei entre soluços, sentindo minha cabeça doer. Em minha cabeça estava aberto um pequeno corte de onde escorria sangue, meus cotovelos e joelhos estavam ralados pela queda e minhas roupas cheias de lama, mas eu não ligava. Pelo menos eu estava bem. A ardência em minha pele era mínima comparada pela dor que eu sentia por ter assistido à morte de um colega.
-Pai, Brandon! O que fizeram com ele foi horrível! -Solucei mais, sem conseguir me soltar do aperto do homem que cuidava de mim. Eu nunca devia ter o desobedecido e rejeitado a sua ligação. Eu devia ter ficado em casa, apenas lendo o meu livro.
Ouvi gritos desesperados de uma menina que chamava pela irmã e chorava desesperada, alegando que ela havia desaparecido. Soltei meu pai por um momento e então me virei, olhando para o lago e o completo caos que se alastrava enquanto pessoas corriam de um lado para o outro. Meus olhos caíram em Calliope e então me senti como se tivesse levado um soco na boca do estômago. Meu corpo congelou e eu fiquei pálida.
Eu ia desmaiar.-Calliope... Onde está Neal?Pensar que alguma coisa tivesse acontecido com meu melhor amigo de infância fez com que o pânico se alastrasse em meu corpo novamente e uma vontade quase incontrolável de correr de volta para a festa me embebedor.
Eu tenho que achar Neal! Eu não suportaria se algo acontecesse com ele. Pensei em correr, mas a mão de um dos policiais segurou meus ombros, fazendo com que eu não saísse do lugar.
-Não! -Gritei tão alto que minha voz saiu rouca. Me debati e soquei o policial, fazendo de tudo para me libertar conforme lágrimas molhavam meu rosto mais uma vez. Eu pulava, me movia, mas nada conseguia fazer com que o maldito homem me soltasse. Voltei a soluçar como uma criança, não encontrando o rosto do meu melhor amigo em lugar algum.
-Neal! Não!